A vida é cheia de perguntas difíceis. Uma delas é: em que momento da vida o rei Salomão escreveu o livro de Eclesiastes? Essa dúvida é comum entre quem estuda a Bíblia ou simplesmente se interessa pelos grandes personagens históricos. Embora a resposta exata não esteja escrita na Bíblia, dá sim pra montar um bom cenário com base nos registros, no estilo do texto e no que sabemos sobre a trajetória dele.
Vamos destrinchar isso aqui de forma simples, direta e com tudo o que você precisa pra sair sem nenhuma dúvida.
Quem foi Salomão e por que ele é tão importante?
Salomão foi o filho do rei Davi com Bate-Seba. Herdou o trono de Israel e governou por 40 anos, numa época de muita paz e prosperidade. Ficou conhecido por sua sabedoria gigantesca, seus conselhos escritos em Provérbios e por ser o responsável pela construção do Templo de Jerusalém, que era o centro espiritual do povo hebreu.
Mas além de tudo isso, ele também é o provável autor de três livros bíblicos: Provérbios, Cântico dos Cânticos e o Eclesiastes. Cada um parece refletir uma fase da vida dele.
- Cântico dos Cânticos: juventude, paixão e romance
- Provérbios: maturidade, conselhos e sabedoria prática
- Eclesiastes: velhice, reflexão e busca por sentido
Ou seja, Eclesiastes seria a obra da sua fase mais madura, talvez até perto da morte.
Salomão tinha quantos anos quando começou a reinar?
De acordo com estudos históricos e pistas no Antigo Testamento, Salomão começou a reinar por volta dos 20 anos de idade. O reinado dele durou 40 anos, então é muito provável que ele tenha morrido com aproximadamente 60 anos.
A matemática aqui ajuda bastante. Se Eclesiastes é mesmo uma obra mais filosófica e existencial, cheia de arrependimentos e lições sobre a vida, é muito mais coerente imaginar que ele a escreveu entre os 50 e 60 anos.
E por que isso é importante?
O livro de Eclesiastes tem uma pegada muito diferente dos outros. Ele é quase como uma carta de despedida da vida. Um tipo de desabafo. Ele começa dizendo que tudo é vaidade e termina com uma recomendação final:
“De tudo o que se tem ouvido, a suma é: teme a Deus e guarda os seus mandamentos.”
Essas são palavras que a gente costuma ouvir de pessoas com muita estrada na vida. Não é um texto de alguém recém-coroado, cheio de entusiasmo. É de alguém que já teve riqueza, prazeres, mulheres, vitórias e derrotas. E que mesmo assim, concluiu que o sentido real está em algo muito mais profundo.
O que o próprio livro diz?
Logo no primeiro capítulo de Eclesiastes, o autor se identifica como “o Pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém”. Só aí já dá uma boa pista de que se trata de Salomão. E repare num detalhe importante no verso 12:
“Eu, o Pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém.”
Percebe o tempo verbal? “Fui rei”. Isso mostra que ele provavelmente escreveu isso depois de já ter deixado o trono ou no finalzinho do reinado, quando já estava refletindo sobre tudo que viveu.
As mensagens de Eclesiastes combinam com a velhice?
Com certeza. O livro fala muito sobre a passagem do tempo, o desgaste da juventude, a perda dos prazeres. A maneira como ele trata o envelhecimento e a fragilidade humana deixa claro que quem escreveu já estava bem ciente da aproximação da morte.
Veja um trecho do capítulo 12:
“Antes que se escureçam o sol, a luz, a lua e as estrelas, e tornem a vir as nuvens depois da chuva…”
É um jeito poético de falar da velhice chegando, dos sentidos falhando, da vida ficando mais silenciosa e limitada. É alguém que já sentiu a força da juventude e agora observa a vida com outros olhos.
Quais são os temas centrais do livro?
O livro de Eclesiastes não é fácil de engolir pra muita gente, justamente porque ele derruba algumas ilusões comuns. Veja os principais pontos abordados:
- Tudo é vaidade: riqueza, status, fama, tudo isso passa.
- A vida é cheia de injustiças: nem sempre os bons prosperam.
- O tempo é implacável: tudo tem seu tempo determinado.
- A sabedoria humana tem limite: quanto mais você sabe, mais percebe o que não sabe.
- O fim chega pra todos: justos e injustos, ricos e pobres.
Por mais pesado que pareça, o livro termina com uma esperança. Ele diz que a única coisa que realmente vale a pena é temer a Deus e obedecer Seus mandamentos.
Salomão se arrependeu no final?
É bem possível. Em outras partes da Bíblia, fala-se que Salomão se deixou levar pelas suas muitas esposas e concubinas estrangeiras, acabando por adorar outros deuses, o que foi uma grande quebra da aliança com o Deus de Israel.
Talvez Eclesiastes seja um tipo de confissão. Um pedido de atenção para quem ainda está no começo da jornada. Uma tentativa de dizer: “Não vá por esse caminho. Eu fui e não valeu a pena.”
O que estudiosos e teólogos dizem?
Boa parte dos estudiosos bíblicos defende a ideia de que Eclesiastes foi escrito por Salomão já no fim da vida. Isso não é só baseado na linguagem do livro, mas também na tradição judaica e cristã. Alguns acham que pode ter sido escrito depois de ele perder o trono, ou durante um período de crise interna.
Apesar de não existir um versículo que diga claramente “Salomão escreveu esse livro com X anos”, as evidências literárias e históricas apontam para os últimos 10 anos de vida, entre os 50 e 60 anos de idade.
Curiosidades rápidas sobre Salomão e Eclesiastes
- Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas.
- Era tão rico que a prata se tornou comum em Jerusalém no seu tempo.
- Mandou construir o Templo com materiais importados e arquitetos estrangeiros.
- Escreveu cerca de 3 mil provérbios e mais de mil cânticos.
- Em Eclesiastes, ele parece cansado da vida, como alguém que viu demais.
Mesmo sem ter um versículo exato dizendo a idade de Salomão ao escrever Eclesiastes, tudo leva a crer que ele tinha entre 50 e 60 anos. Era um homem que já tinha vivido quase tudo que um ser humano poderia viver. E que, no fim das contas, resolveu escrever um livro pra deixar registrado que a única coisa que realmente faz sentido é viver de forma sábia, com temor e reverência a Deus.
Esse livro não é sobre pessimismo. É sobre acordar pra realidade. E entender que o tempo, o prazer, o poder e o dinheiro são passageiros. O que fica mesmo é o legado e a conexão com o espiritual.