O Brasil vive um momento de virada na forma como empresas e trabalhadores encaram o equilíbrio emocional no ambiente de trabalho. A entrada em vigor da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que exige o mapeamento de riscos psicossociais e a implementação de medidas preventivas, coloca a saúde mental no centro das discussões corporativas.
Os números explicam a urgência: segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de ansiedade da América Latina e o segundo em casos de depressão. O tema deixou de ser tabu e passou a ser parte essencial das estratégias de gestão e produtividade.
A nova exigência legal e o impacto nas organizações
A atualização da NR-1, em vigor desde 2025, obriga empresas de todos os portes a considerarem fatores como estresse, sobrecarga, assédio moral e falta de reconhecimento em seus planos de saúde e segurança ocupacional.
Para a psicóloga Fabíola Gonçalves, fundadora da Infocus Health e especialista em saúde mental corporativa, essa mudança representa um avanço histórico.
“A legislação vem para formalizar algo que os números já mostravam há anos: o adoecimento emocional custa caro, tanto para o trabalhador quanto para o empregador. Cuidar da mente deixou de ser um luxo e se tornou uma necessidade estratégica”, explica a especialista.
A Infocus Health é uma das pioneiras no desenvolvimento de programas de saúde mental nas empresas, com foco em diagnóstico organizacional, capacitação de líderes e apoio terapêutico contínuo.
Segundo Fabíola, o impacto positivo é visível: redução de absenteísmo, aumento da motivação e um ambiente mais humano.
O crescimento da psicoterapia online
O avanço da tecnologia e a mudança cultural pós-pandemia também transformaram a forma como os brasileiros buscam apoio emocional. A psicoterapia online passou a ser reconhecida como ferramenta legítima e segura, especialmente para quem precisa de atendimento rápido ou mora em cidades com menos oferta de profissionais.
A demanda por psicóloga online para depressão cresceu de forma consistente nos últimos dois anos, e o formato remoto tem mostrado eficácia igual ao presencial.
“O atendimento digital amplia o acesso e quebra barreiras de tempo e distância. Muitas pessoas só conseguiram iniciar o tratamento graças à modalidade online”, observa Fabíola Gonçalves.
Terapias baseadas em evidências e resultados reais
Entre as abordagens mais utilizadas no ambiente digital está a Terapia Cognitivo-Comportamental online, reconhecida mundialmente por sua eficácia em casos de ansiedade, depressão e estresse.
De acordo com Fabíola, essa abordagem é especialmente útil no contexto corporativo:
“A TCC ajuda o indivíduo a reconhecer padrões de pensamento e comportamento que geram sofrimento. Isso é fundamental para profissionais que vivem sob alta pressão, prazos curtos e desafios constantes.”
A especialista também reforça que empresas que incentivam o acesso à terapia, seja por meio de convênios, programas internos ou parcerias, tendem a ter colaboradores mais equilibrados e comprometidos.
Um novo olhar para o futuro do trabalho
O movimento pela saúde mental corporativa não é isolado. Ele está alinhado às práticas de sustentabilidade humana que fazem parte da agenda ESG (Environmental, Social and Governance). Cuidar das pessoas passou a ser um pilar de reputação e responsabilidade social para marcas que buscam longevidade.
“Não é mais apenas sobre produtividade, mas sobre pertencimento. Empresas que acolhem e escutam seus colaboradores estão construindo o futuro do trabalho no Brasil”, resume Fabíola.
A tendência é que, nos próximos anos, os programas de saúde mental se tornem tão comuns quanto os planos médicos. E, ao que tudo indica, o país caminha para uma nova fase: uma era em que a performance e o bem-estar andam lado a lado, com ganhos reais para indivíduos, empresas e para toda a sociedade.